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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
O jogo da vida
Edição 75/ Junho de 2006 05/10/2011
Especialistas analisam por que o futebol fascina o mundo
por Sean Wilsey Fonte: National Geographic Brasil
Eduardo Monteiro
Erguido há mais de 50 anos, o Maracanã, no Rio de Janeiro, ainda é o maior estádio de futebol
É o que pretendo fazer. O mundo refletido na Copa é aquele em que eu gostaria de viver. Não consigo resistir à pompa e ao espírito altivo semelhantes ao das Nações Unidas, à exibição apolítica de características nacionais, à revelação de graves falhas humanas e inesperados momentos de grandeza, ao fato de que países inteiros deixam de ir ao trabalho ou acordam às 3 da madrugada para ver um bando de homens correr atrás de uma bola. Alguns países são representados por times multirraciais – como a França e a Inglaterra –, enquanto outras equipes são compostas só de loiros, ou de asiáticos ou de latino-americanos. Um vendedor de pneus eslovaco, um policial italiano ou um pianista alemão fazem jornada dupla como árbitros. E há as crianças que dão as mãos aos jogadores quando estes entram em campo. Os hinos nacionais. Os homens que se pintam com as cores de seu país e choram desbragadamente quando seu time é derrotado. Para citar aquele livro que todo atleta em viagem encontra em seu quarto de hotel: “Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mateus 5:12). Ou, como diz o meu exemplar de As Regras do Futebol, “Você está pronto? Pronto para instigar os jogadores à vitória, para maravilhar-se com sua resistência, velocidade e habilidade, estimulando-os a ganhar cada disputa de bola, preparado para poderosos chutes? Pronto para a excitação dos laterais que disparam em incríveis arrancadas, dos meias que avançam pelo campo adversário, das cobranças de escanteico com efeito, das tabelinhas perfeitas e dos gols aparentemente impossíveis? Pronto para mergulhar em um mundo de fantasia?”
Não admira que o futebol seja tão popular em todo o mundo. Uma explicação são duas coisas que sempre motivaram a humanidade: dinheiro e Deus. O futebol profissional movimenta muito dinheiro. Os clubes de futebol, tal como o capitalismo, resultam do desejo infantil de tornar reais os sonhos, seja qual for o custo – algo hoje concretizado por homens com recursos suficientes para juntar, por exemplo, o melhor atacante brasileiro, o melhor meia holandês, o melhor zagueiro britânico, o melhor goleiro alemão e colocá-los para enfrentar times da mesma qualidade, montados por outros bilionários. É uma situação injusta, claro, mas que reflete bem o mundo atual. Por outro lado, no futebol também encontramos o divino.
Afinal, esse jogo não é tudo o que deveria ser a religião? Universal e ao mesmo tempo particular, fonte de esperança sempre renovável e governado por leis simples e inequívocas, que todos podem entender. As regras do futebol promovem a igualdade, a contenção e a não violência, e são flexíveis o suficiente para ser reinterpretadas à vontade por um árbitro sensato. Vale o que o juiz decidir, por mais heterodoxas sejam suas decisões. O meu livrinho, depois de apresentar em detalhes as 17 regras oficiais do jogo, conclui dizendo que o juiz pode desconsiderar qualquer uma delas a fim de aplicar o que, de maneira um tanto mística, chama de “espírito de justiça”.
O substrato religioso do futebol fica mais evidente nos anos de Copa do Mundo. Times de todo o planeta convergem para o país-sede com o mesmo ânimo dos cruzados, mas desarmados e atléticos. E, tal como nas cruzadas, o país-sede tende a repelir esses invasores. Há uma curiosa e quase sobrenatural vantagem para a equipe que joga em casa. Em geral, seus jogadores obtêm um êxito desproporcional a seus talentos, triunfando sobre equipes melhores, como se ajudados por uma espécie de atração gravitacional que faz com que a partida seja mais favorável a eles ou, para levar essa metáfora a sua conclusão lógica, como se contassem com o apoio de Deus.
Todo mundo sabe que o futebol, tal como a religião, está na origem de muita violência. Mas o futebol também sobressai por sua capacidade de atenuar diferenças e subverter preconceitos nacionais. O mero fato de uma Copa do Mundo ter sido sediada simultaneamente na Coréia do Sul e no Japão, como ocorreu em 2002, foi uma vitória do espírito de tolerância e entendimento entre os povos. Em menos de meio século, os sul-coreanos passaram de uma atitude de intransigência, quando proibiram a entrada no país da seleção japonesa na fase de classificação para a Copa de 1954, para outra, em que aceitaram sediar o torneio em conjunto com uma nação que já os havia ocupado militarmente. Se concedermos ao mundo mais 50 anos, aposto que ainda veremos uma Copa sediada conjuntamente por Israel e a Palestina.
E por que não? A universalidade do futebol deve muito à sua simplicidade – ao fato de que é possível jogar futebol em qualquer lugar e de qualquer maneira. Neste mês, esse jogo maravilhoso – essa mescla de negócio e religião, vamos dizer assim – vai mostrar sua face mais injusta, frustrante e magnífica na primeira Copa do Mundo a ser realizada na Alemanha unificada. E o que torna a Copa tão bela é o próprio mundo, a reunião de todos nós. A alegria de ser um dentre mais de 1 bilhão de pessoas que vão acompanhar as seleções de 32 países submetidas a 17 regras, reforça em mim a certeza de que o futebol é um elemento de união imprescindível para todos nós.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
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